Cintilografia com Leucócitos Marcados

Introdução:

A cintilografia com leucócitos marcados tem sido considerada o método de imagem de escolha na investigação de processo infeccioso em pacientes não imunodeprimidos.
Devido ao fato de conseguirmos separar os leucócitos de outros componentes do sangue, marcá-los com radioisótopo sem interferir na sua função, se torna uma ferramenta bastante útil na identificação processo inflamatório/infeccioso, com elevada acurácia.
Os leucócitos radiomarcados são atraídos aos sítios de inflamação por fatores locais, passam do interior do vaso sanguíneo para o interstício e migram diretamente para o local da inflamação (processo denominado quimiotaxia). Se a causa da inflamação for infecciosa, os neutrófilos ativos (alguns deles radiomarcados) os agentes infecciosos, promovendo a sua destruição.
Estando os leucócitos radioativos, a imagem do corpo inteiro obtida por uma gama câmara permite localizar áreas de acúmulo anormal de leucócitos e identificar o possível local de infecção.
Estudos tem demonstrado alta sensibilidade e especificidade do método na identificação de febre de origem indeterminada, osteomielite em pé diabético e infecção de próteses, catéteres e outros dispositivos.
A marcação de leucócitos pode ser realizada in vitro (metodologia ideal) necessitando de manipulação de amostra de sangue do paciente em laboratório equipado e apropriado para este fim. Entretanto, este procedimento apresenta riscos de infecção para os profissionais que manipulam o material e para o paciente, além de exposição à radiação durante a marcação.
A recente disponibilidade de um dispositivo de sistema fechado para marcação reduziu muito esses problemas e se tornou uma alternativa atraente, principalmente porque reduz o tempo de preparo, porém não disponível no nosso país.

Indicações:

  • Detectar sítios suspeitos de infecção/inflamação em pacientes com febre de origem desconhecida.
  • Detectar e acompanhar pacientes com infecção musculoesquelética, principalmente osteomielite (pé diabético, prótese vascular infectada, prótese ortopédica infectada).
  • Detectar a ativação e determinar a extensão da doença inflamatória intestinal. Neste caso é preferível o uso de 111In-oxine-leucocitos marcados.
  • Detectar abscesso pós-operatório, infecção pulmonar, endocardite, infecção neurológica, infecção em cateter venoso central ou outros dispositivos.

Fig 1: Imagens de corpo inteiro com leucócitos marcados demonstrando distribuição fisiológica do radiofármaco.

 

 

Fig 2: Cintilografia com leucócitos marcados mostrando área focal de acúmulo anormal do radiofármaco na região do ísquio direito, colo e trocânter maior e fêmur ipsilaterais, indicando processos infecciosos (seta).

Radiofármacos:

99mTc-HMPAO-leucocitos marcados.
111In-oxine-leucocitos marcados (não disponível no país).

Preparo:

Não é necessário.

Como é feito o exame?

  • O paciente será recebido pelo setor Recepção, onde deverá providenciar os documentos previamente relacionados para criação ou atualização da ficha cadastral, bem como ler e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido para a realização do exame.
  • O paciente passará por uma entrevista para coleta de dados clínicos, verificação de preparo e orientações.
  • Uma amostra de 40 a 60 ml de sangue do paciente será retirada para a marcação.
  • Essa amostra deverá ser sedimentada e o sobrenadante centrifugado para a separação dos leucócitos e plaquetas.
  • Após a separação dos leucócitos, o procedimento de marcação é realizado.
  • Os leucócitos são ressuspendidos com uma pequena quantidade de plasma do próprio paciente e reinjetados numa veia periférica.
  • Todo o procedimento de sedimentação, segregação e marcação é realizado em uma capela de fluxo laminar para evitar qualquer contaminação.
  • Imagens do corpo inteiro serão adquiridas 4 a 6 horas após a reinjeção de leucócitos marcados. Imagens de 24 horas poderão ser necessárias.

Efeitos Colaterais e contraindicações:

  • Por ser um método onde a marcação de leucócitos é in vitro, o manuseio do sangue traz riscos tanto de contaminação para o paciente como para o operador. Por isso, o procedimento deve ser realizado em ambiente asséptico, em capela de fluxo laminar e todo o cuidado no manuseio do material deve ser tomado.
  • Este exame não é recomendado para mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez.
  • Não é recomendado para pacientes com leucopenia (a contagem de leucócitos deve ser maior que 3500/mm3 com 50% ou mais de neutrófilos).

Como Solicitar:

Cintilografia com Leucócitos Marcados – Código TUSS: 40708039
Cintilografia do Sistema Retículo-Endotelial (Medula Óssea) – Código TUSS:40705013 / Código SUS: não existe.

Os leucócitos se acumulam tanto na área infectada como na medula óssea normal. A distribuição normal de leucócitos na medula óssea é variável conforme a idade e condições sistêmica e locais. Consequentemente, não é possível determinar se uma área de hiperatividade na medula óssea é infecção ou captação normal. Daí a necessidade de se complementar o estudo com cintilografia de medula óssea com colóide radiomarcado. Ambos os traçadores (leucócitos e colóide) se acumulam na medula óssea normal, os leucócitos também se acumulam na área de infecção, mas o colóide não. Portanto, a combinação dos estudos permite afirmar que existe infecção quando há acumulo de leucócitos e não há correspondência na cintilografia de medula. Qualquer outro padrão é considerado negativo para infecção.
A cintilografia com leucócitos marcados tem sido considerada método de escolha na suspeita de osteomielite em pé diabético com sensibilidade variando de 86% a 93% e especificidade entre 80% a 98%.
Em casos de infecção de coluna vertebral, o melhor método para o diagnóstico é a ressonância magnética. A medicina nuclear pode contribui com a cintilografia com 67Gálio ou estudo com 18F-FDG PETCT. Estudos tem mostrado alta sensibilidade, especificidade e acurácia de 18F-FDG PETCT no diagnóstico de osteomielite de coluna. A cintilografia com leucócitos marcados nesta situação possui baixa sensibilidade, uma vez que a pressão intramedular pode estar aumentada, não permitindo a migração e o acúmulo de leucócitos.
Novos traçadores estão sendo desenvolvidos tornando a medicina nuclear uma ferramenta bastante eficaz no diagnóstico de infecção.
Nos casos de febre de origem indeterminada, a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e acurácia foram de 73,5%, 86,3%, 79,1% e 79,5%, respectivamente.  Nessa situação o estudo com 18F-FDG PETCT tem demonstrado melhores resultados.

Referências Bibliográficas:

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Autora: Dra. Dilma Mariko Morita – CRM / SP 68.023 – Médica Nuclear

 

CRM / SP 68.023 – Médica Nuclear