Cintilografia de Perfusão Cerebral (SPECT Cerebral)

Outros nomes que este procedimento pode ser chamado:

Cintilografia Cerebral, Perfusão Cerebral com SPECT, Cintilografia Cerebral,  SPECT Cerebral, Cintilografia de Perfusão cerebral, Cintilografia Cerebral com ECD-Tc99m.

Introdução:

A medicina de precisão e o desenvolvimento de biomarcadores têm sido foco de diversos estudos como meio para o desenvolvimento de novas intervenções e manejo de doenças neurológicas. Ao reconhecer a complexidade e contribuir para a definição de componentes-chave de vias fisiopatológicas, a medicina de precisão pode melhorar a condução individualizada de um paciente.
A Medicina Nuclear, como a especialidade que se ocupa do diagnóstico, tratamento e investigação médica mediante o uso de radioisótopos como fontes radioativas abertas, tem desempenhado um papel essencial no avanço do conhecimento das doenças neurológicas, sendo capaz de permitir diagnósticos mais precoces e específicos, particularmente relevante quando disponíveis drogas modificadoras do curso da doença, além de determinar prognóstico clínico e levar à otimização da conduta médica, que compreende desde terapêutica com fármacos até cuidados sociais. Os métodos da Medicina Nuclear vão além da medição da atrofia e avaliam biomarcadores específicos da doença, alguns dos quais precedem a neurodegeneração por muitos anos.
A Tomografia por Emissão de Fóton Único (SPECT, do inglês Single Photon Emission Computed Tomography) é atualmente um dos métodos de imagem mais amplamente disponíveis para o estudo da função cerebral. Tem sido utilizado com sucesso como método diagnóstico desde a década de 1980, em destaque para avaliação de perfusão cerebral.
Os principais radiofármacos aplicados no método são o ECD (etilenodicisteinato de dietila) e o HMPAO (hexametilpropilenoaminooxima) marcados com o radioisótopo tecnécio-99m (99mTc). Ambos são compostos neutros e lipofílicos, capazes de atravessar a barreira hematoencefálica e, a seguir, as membranas celulares, sofrendo uma modificação intracelular e por consequência retenção cerebral. A distribuição desses traçadores é dependente da perfusão cerebral, com alta taxa de extração e ausência de redistribuição. Desse modo, a imagem obtida evidencia a perfusão cerebral no momento da administração intravenosa, e a sua interpretação pode dar suporte à hipótese clínica.
Assim, déficits perfusionais cerebrais regionais podem, por exemplo, identificar área de neurodegeneração, que está probabilisticamente mais associada a uma determinada condição patológica ou condições patológicas, culminando em um diagnóstico como de doença de Alzheimer, demência frontotemporal, demência por corpos de Lewy, com alto valor preditivo em muitos casos, particularmente quando associados a achados clínicos que corroboram com os da imagem. Permite ainda, contribuir para o entendimento e localização de foco epileptogênico através de estudo combinado crítico-intercrítico, com acurácia de até 90% em casos de epilepsia do lobo temporal, sendo esperado aumento perfusional relativo durante crises epilépticas em comparação com estudos realizados fora da crise.

Indicações:

  • Demências: avaliação em suspeita de demência, visando a detecção precoce e diagnóstico diferencial de doença de Alzheimer, demência por corpos de Lewy, demência por doença de Parkinson, demência vascular, demência frontotemporal, dentre outras.
  • Epilepsia: auxílio na localização de foco epileptogênico em avaliação pré-operatória de adultos e crianças com epilepsia fármaco resistente.
  • Doença cerebrovascular: avaliação de doença cerebrovascular, tais como o acidente vascular cerebral agudo, isquemia cerebral crônica, vasculites; avaliação pré-operatória da reserva vascular cerebral; e avaliação tardia de sequelas isquêmicas.
  • Traumas: avaliação da extensão e do comprometimento encefálico após o trauma.
  • Avaliação de morte cerebral.

Radiofármacos:

  • 99mTc-ECD ou 99mTc-HMPAO.

Preparo:

  • Não é necessário estar em jejum.
  • Não é necessário suspender medicações.
  • É necessário que o paciente fique com a cabeça imóvel por cerca de 30 a 60 minutos durante a aquisição.

Figura 1 – SPECT perfusão cerebral com ECD-99mTc (cortes axiais da cintilografia): Paciente com quadr clínico suspeito para demência frontotemporal.

Figura 1 – SPECT perfusão cerebral com ECD-99mTc (SPECT/CT – cortes axiais da cintilografia e da tomografia computadorizada associada ao SPECT): Paciente com quadro clínico suspeito para demência frontotemporal, evidenciando hipoperfusão nos lobos frontais e parietal à direita.

Como é feito o exame?

  • O paciente será recebido pelo setor Recepção, onde deverá providenciar os documentos previamente relacionados para criação ou atualização da ficha cadastral, bem como ler e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido para a realização do exame.
  • O paciente receberá um crachá de identificação e será encaminhado ao setor técnico para início do procedimento com uma entrevista para coleta de dados clínicos, verificação de preparo e prestação de orientações.
  • Em seguida será encaminhado à sala de repouso.
  • Após 15 a 30 minutos, o radiofármaco será injetado por via endovenosa e o paciente deverá aguardar. Durante o período de repouso o paciente deve manter a vigília e evitar falas ou movimentos que possam interferir na biodistribuição normal do radiofármaco.
  • A aquisição das imagens será realizada 1 hora após a administração do radiofármaco.
  • Tempo médio da aquisição das imagens: 30 a 60 minutos. Durante a aquisição o paciente não deve movimentar a cabeça.

Efeitos colaterais e contraindicações:

Reações alérgicas ao radiofármaco podem ocorrer, embora sejam extremamente raros. As reações descritas na literatura são dificuldade respiratória, alucinações, hipertensão, angina (dor torácica), agitação, ansiedade, vertigens, tontura, sonolência, náuseas e parosmia.
As principais contraindicações são:

  • Hiperssenssibilidade a algum agente da formulação;
  • Gravidez ou com suspeita de gravidez;
  • Incapacidade de cooperação com o procedimento. Considerar a possiblidade de sedação, que deve ser realizada sob indicação e orientação médica.

Como solicitar:

Cintilografia de Perfusão Cerebral – Código TUSS: 40707032 / Código SUS: 02.08.07.001-0
Cintilografia Cerebral com 18F-FDG em Camara Híbrida – Código TUSS: 40707024 / Código SUS: 02.06.01.009-5
*incluir o CID, hipótese diagnóstica e/ou indicação do exame.

Considerações finais:

O SPECT de perfusão cerebral fornece informações funcionais sobre o sistema nervoso central, complementares ao quadro clínico e aos exames de imagem anatômica convencional. Trata-se de método diagnóstico seguro, com indicações bem estabelecidas na literatura médica. Converse com o médico nuclear para esclarecimentos adicionais.

Referências bibliográficas:

  • FERRANDO, R.; DAMIAN, A. Brain SPECT as a Biomarker of Neurodegeneration in Dementia in the Era of Molecular Imaging: Still a Valid Option? Frontiers in Neurology, 2021. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.3389/fneur.2021.629442>
  • Mountz, J.M. et al. Pediatric Epilepsy: Neurology, Functional Imaging, and Neurosurgery. Seminars in Nuclear Medicine, 2017; 47:44-53.
  • William, H. et al. Presurgical Focus Localization in Epilepsy: PET and SPECT. Seminars in Nuclear Medicine, 2017; 47:170-187.
  • Kumar, A; Chugani, HT. The Role of Radionuclide Imaging in Epilepsy, Part 2: Epilepsy Syndromes Temporal and Extratemporal Lobe Epilepsy. J Nucl Med 2013; 54:1924–1930.
  • Torosyan N, Silverman DH, editors. Neuronuclear imaging in the evaluation of dementia and mild decline in cognition. Seminars in nuclear medicine; 2012: Elsevier.
  • Simão, GN; Pitella, FA. Neurorradiologia nas demências. In: Duarte, PO; Amaral, JRG (org.). Geriatria: Prática Clínica. 2. ed. São Paulo: Editora Manole. 2023.

 

Autor: Dr. Felipe Arriva Pitella – CRM 130.053 – Médico Nuclear

 

CRM / SP 130.053 – Médico Nuclear